Após anos de casamento o marido de Heli (Anu Sinisalo) não está mais afim de fazer sexo com ela. O máximo que ela consegue tirar dele é uma massagem no ombro. Ao conhecer o jovem e viceral Jarno (Kai Vaine), os dois começam a se relacionar, já que Jarno oferece a ela o que o marido (Ville Virtanen) não proporciona. Nesse caso extra-conjugal, Heli passa a entender melhor o que ela quer ou não quer da sua vida.
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Dirigido por Samuli Valkama e baseado no romance homônimo de Anna-Leena Härkönen, "Ei Kiitos" (traduzido internacionalmente como "No Thank You") é uma comédia dramática finlandesa que explora, com leveza e um toque de melancolia, os desafios conjugais enfrentados por um casal de meia-idade. A trama segue Heli (Anu Sinisalo), uma mulher que se vê frustrada pela falta de intimidade com seu marido Matti (Ville Virtanen), cuja atenção está mais voltada para os jogos de computador do que para sua esposa. Em meio a essa desconexão emocional, Heli inicia um caso com um homem mais jovem, na esperança de reacender sua vida amorosa — um caminho que inevitavelmente a força a reavaliar suas escolhas e expectativas.
Samuli Valkama constrói uma narrativa simples, mas eficaz, que se move entre o drama e a comédia sem grandes tropeços. O roteiro consegue equilibrar momentos de humor irônico com reflexões mais profundas sobre a solidão e o desejo dentro de um relacionamento de longa data. A força do filme reside na maneira como Valkama explora a desconexão emocional entre Heli e Matti — não há vilões nem mocinhos aqui, apenas dois indivíduos tentando encontrar o equilíbrio entre amor e desejo em um contexto de rotina desgastante.
No entanto, o filme peca por tentar simplificar questões complexas. A traição de Heli é retratada quase de maneira trivial, sem um peso emocional real, o que enfraquece o impacto dramático da narrativa. A resolução dos conflitos também ocorre de maneira um tanto apressada, deixando a sensação de que o filme se esquiva de explorar as camadas mais profundas das relações humanas.
Anu Sinisalo é o coração do filme. Sua performance como Heli é cheia de nuances, transmitindo tanto a frustração e o desconforto de sua personagem quanto os momentos de esperança e prazer que surgem com o caso extraconjugal. Sinisalo evita o clichê da "esposa traída" e constrói uma personagem autêntica, com falhas e desejos palpáveis.
Ville Virtanen, por outro lado, oferece uma interpretação contida e sutil como Matti, que complementa perfeitamente o calor emocional de Heli. Virtanen transmite, com poucas palavras e expressões, a apatia emocional e o distanciamento que definem o conflito central do casal. Kai Vaine, como o amante Jarno, cumpre seu papel sem grandes destaques, funcionando mais como um catalisador para o desenvolvimento de Heli do que como um personagem completo.
A cinematografia é marcada por tons neutros e uma iluminação suave, que reforçam o tom intimista da narrativa. Os cenários — a casa do casal, os ambientes externos discretos — refletem o vazio emocional dos personagens, criando um contraste interessante com os momentos de intimidade e desejo que surgem entre Heli e Jarno.
O principal mérito de "Ei Kiitos" é sua capacidade de abordar o desejo feminino e os desafios da intimidade em um relacionamento de longa duração sem recorrer a estereótipos ou moralismo. A direção segura de Valkama e a atuação de Sinisalo criam uma obra que é ao mesmo tempo acessível e emocionalmente ressonante.
Por outro lado, o filme perde força ao tentar tratar a traição como um evento quase cômico, sem explorar plenamente suas consequências emocionais. A resolução rápida e superficial dos conflitos deixa a sensação de que o filme preferiu a segurança de uma comédia romântica a uma exploração mais honesta e corajosa dos dilemas conjugais.
"Ei Kiitos" é um filme simpático e bem atuado, que oferece uma visão sincera sobre o desejo e a frustração dentro do casamento. Apesar de tropeçar em sua tentativa de simplificar questões complexas, o trabalho de Anu Sinisalo e a direção equilibrada de Samuli Valkama garantem um filme que, embora não inesquecível, é envolvente e verdadeiro em sua essência.